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Como um processo eficaz de gestão de contratos contribui para os objetivos da empresa
Qualquer que seja o mercado de atuação da empresa, um aspecto inegavelmente central para o seu funcionamento são os contratos. Os contratos são espinha dorsal do relacionamento que uma organização tem com seus parceiros, fornecedores e clientes. Diante de tamanha importância, cada vez mais são exigidos dos advogados e advogadas internos habilidades e conhecimentos voltados à gestão eficaz dos contratos.
Por estas e outras razões, que o tema “gestão de contratos” passou a ter uma relevância muito maior nos departamentos jurídicos, sendo uma atividade crucial de apoio ao sucesso do negócio. Já não se trata da velha e conhecida rotina de verificar se as assinaturas foram todas coletadas, arquivar documentos e controlar os prazos de vigência. Uma boa gestão de contratos implica compreender todos os aspectos do ciclo de vida de um contrato para impulsionar seu desempenho e reduzir os riscos envolvidos.
O processo de gestão de contratos abrange desde as atividades iniciais de negociação das bases contratuais, passando pela redação e negociação das cláusulas até a assinatura, como também envolve o acompanhamento da execução das obrigações pelas partes até o seu encerramento.
O primeiro passo para se ter uma gestão de contratos eficaz, é criar um método de organização ou de verificação de ações básicas que devem ser seguidas durante todo o ciclo de vida de cada contrato. Resguardadas as peculiaridades de cada organização, podemos arriscar uma estrutura básica com 10 etapas para um processo de gestão de contratos eficiente, são elas:
- Conheça o histórico. Faça uma investigação nos arquivos da empresa, converse com as áreas de negócio envolvidas, pergunte para os colegas mais antigos se ocorreram situações – legais ou operacionais – envolvendo o objeto daquela contratação que precisam ser endereçadas na nova contratação, ou se existem pontos de atenção ou cláusulas que não foram devidamente tratadas no contrato anterior.
- Identifique os objetivos e metas comerciais. É fundamental identificar quais os objetivos e as metas comerciais que serão impactadas por aquela contratação e também compreender o apetite de risco da organização para ajustar as expectativas de atingimento destes objetivos e metas comerciais. Saiba da importância daquele contrato para a empresa.
- Identifique os riscos e aponte alternativas. Sabendo dos objetivos e metas, identifique os riscos envolvidos naquela contratação, reporte aos gestores do contrato e auxilie propondo alternativas para minimizar os riscos ou para minimizar as consequências de um fato adverso que possa ocorrer o longo do ciclo de vida do contrato. Assegure que os riscos eventualmente identificados sejam apontados aos representantes que têm a devida alçada de aprovação.
- Redação do contrato. Uma vez identificados, definidos e esclarecidos corretamente os objetivos, riscos e expectativas do negócio, inicia-se o processo de elaboração do contrato. Reúna todas as informações e documentos de apoio necessários. Se for utilizar minutas padrão ou templates, certifique-se de que os modelos estejam atualizados com as práticas atuais da empresa e com as leis e regulamentos mais recentes. Não se acomode com redações padrão, revisite as cláusulas pois sempre há espaço para melhorias.
- Estabeleça um SLA de resposta. Defina os prazos de resposta e cronograma de execução com todos os envolvidos na elaboração, revisão e negociação da minuta, isso envolve o seu cliente interno, os gestores das áreas envolvidas, os advogados externos, o revisor e o seu próprio prazo. Respeitar o prazo de elaboração da minuta é essencial para o negócio, para atender as expectativas das partes e evitar pressões que prejudiquem a avaliação de aspectos importantes do contrato.
- Negociação da minuta com as partes envolvidas. Durante esta etapa, os temas extrapolam as questões meramente comerciais ou operacionais que geralmente já foram definidas durante as tratativas comerciais. É comum que neste momento as partes passem a discutir questões de natureza mais jurídica, tais como os direitos e obrigações atribuídos a cada uma, multas, garantias, responsabilidades, indenizações, causas e consequencias de rescisão, entre tantas outras questões. Nessa etapa, os advogados assumem um papel de maior protagonismo e o ideal é deixar as vaidades de lado e focar nos objetivos da empresa, sem abrir mão, obviamente, da segurança jurídica.
- Registre os entendimentos e mantenha o histórico. Assegure que todas as mudanças propostas pelas partes no processo de negociação estejam registradas para que se tenha o histórico completo da negociação e, aquelas que forem aceitas, sejam devidamente incorporadas na minuta.
- Finalização e assinatura do contrato. Uma vez concluída a fase de negociação e incorporadas todas as alterações aceitas pelas partes, o contrato vai para assinatura dos representantes. Verifique as regras de governança, tanto da parte que você representa, como da outra parte. Fique atento às políticas e procedimentos de revisão e aprovação de contratos, confira os poderes e alçadas de assinatura estabelecidos pela empresa.
- Gestão das obrigações contratuais e auditorias. A gestão de contratos não termina quando o contrato é assinado. Após a assinatura, é essencial assegurar que todas as partes desempenhem suas obrigações, cumpram os prazos, pagamentos, qualidade, etc. Como parte do plano de gestão, recomenda-se programar alertas de datas identificadas nos contratos que possam exigir ações de acompanhamento, tais como marcos de desempenho e prazos para exercício de opções ou diretos. Auditorias contratuais regulares ajudarão a identificar potenciais inconsistências, antecipar eventos adversos e estabelecer mecanismos de mitigação de riscos e prejuízos.
- Gestão do prazo de vigência. À medida que o ciclo do contrato vai chegando a sua data de término, é essencial acompanhar o seu encerramento definitivo ou suas renovações. A depender do objeto do contrato, a falta de formalização das renovações, ou demora para iniciar as tratativas de uma possível renovação ou mesmo para comunicar a falta de interesse em renovar o contrato, pode resultar em perdas significativas ou mesmo a perda de tais direitos.
Dizem que somente os advogados que gostam do contrato, mas quando algo dá errado ou quando a relação entre as partes começa a se deteriorar e elas perdem a capacidade de resolver os impasses em comum acordo, é o contrato que apresentará as soluções e os caminhos a serem seguidos. Afinal, na mesma medida que um contrato bem redigido e negociado traz segurança e previsibilidade para as partes contratantes, um contrato mal redigido ou mal administrado pode trazer vários riscos operacionais e financeiros para a empresa.
Há tempos que não há mais espaço no mundo corporativo para aquele jurídico que se comportava quase que como um adversário da área comercial e que enxergava um risco em cada nova oportunidade de negócio. No mercado cada vez mais competitivo e inovador em que vivemos, a advogada ou advogado corporativo deve ser um efetivo parceiro do negócio, precisa conhecer profundamente as atividades da empresa e suas estratégias comerciais. Ele ou ela devem ter sim a capacidade de avaliar os riscos envolvidos e aponta-los aos tomadores de decisão, mas também têm o dever de encontrar e propor soluções que mitiguem esses riscos, sem abrir mão da legalidade e segurança para a empresa.
Cada empresa ou departamento jurídico saberá como melhor definir o seu próprio processo de gestão de contratos, não temos a pretensão de que as 10 etapas acima sugeridas sejam um guia definitivo ou tenham esgotado todos aspectos envolvidos, afinal as fases e ciclos podem ser diferentes de acordo com a realidade de cada empresa ou negócio. No entanto, os resultados alcançados com um bom processo de gestão de contratos são perceptíveis dentro das organizações e tidos como uma contribuição efetiva dos departamentos jurídicos para alcançar os objetivos da empresa.
Publicado originalmente no Fenalaw.